Contestado, a contestação da passividade brasileira
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Contestado, a contestação da passividade brasileira

Por Gilson Aguiar em 22/10/2021 - 08:15

O Brasil é um país construído pela violência. Por mais que gostamos de considerar a “passividade” do povo brasileiro, ela não existe. Há inúmeras guerras que marcam a formação do país, a sua história.

Uma delas é a Guerra do Contestado (192-1916). Ela tem uma relação direta com a concentração de uma população que não existe oficialmente por parte do poder público. O Brasil do início da república apresentava inúmeros “vazios” demográficos. Um deles era o interior do Paraná e Santa Catarina.

Nestes espaços não ocupados e integrados a economia formal ocorreram ocupações de caboclos. Muitos fugitivos e refugiados se embrenhavam na mata para sobreviver. Viviam com populações indígenas e construíram um mundo a parte no chamado sertão.

Estas populações acabariam sendo encontradas quando a colonização oficial as encontrou. De inúmeras formas isto aconteceu. Quando terras eram vendidas oficialmente pelos governos e iniciava a posse pelos “legítimos” compradores, ou pelo menos por quem tinha o registro oficial.

No casso do Contestado, a guerra se dá em uma região marcada pela ocupação de caboclos e contestada pelo estado de Santa Catarina. Originalmente, o território do contestado pertencia ao Paraná, quando de sua criação, desmembrando-se de São Paulo (1853).

Fora isso, a república ainda jovem, fez um contrato de concessão de construção de uma ferrovia, a São Paulo-Rio Grande, para empresa Railway Company e a exploração de uma faixa de terra as margens da ferrovia pela empresa Southern Brazil Lumber & Colonization Company, ambas pertencentes ao empresário norte-americana Percival Farquhkar.

Este contexto foi campo fértil para um conflito de terras entre caboclos, empresa ferroviária e colonizadora e os governos estaduais (Paraná e Santa Catarina) e federal. O conflito começou em 1912 e foi até 1916. Oito mil camponeses, caboclos, morreram. Mil militares ou combatentes dos governos estaduais e federal.

Junto a tudo isso, os caboclos foram unidos pelo discurso messiânico de João e José Maria. Monges, associados a figuras divinas que vieram para libertar e liderar os populares em luta contra a exploração da companhia ferroviária e colonizadora e as forças públicas. Este povo tem fé e muito do que se transforma em revolta tem a religiosidade como sentido e valor.

O Brasil é construído historicamente pela violência. Temos a ilusão da passividade do brasileiro. Nossa história é marcada por confrontos constantes. Guerras civis declaradas ou disfarçadas. Uma repressão violenta. Inúmeras mortes. Os conflitos estão em andamento e vão moldando nossa história, com um sangue que não está expresso na bandeira e faz parte da identidade nacional.

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