O Brasil já passou por vários sistemas de governo; nas últimas décadas vive um sistema democrático de pluralidade, com transições de cultura, de conhecimento e de gerações que naturalmente encontra opiniões, barreiras e conflitos, situações que fazem parte do amadurecimento desse sistema, onde a liberdade em seu sentido pleno, é a essência desta ordem. Quando vemos a necessidade de se fazer manifestos e de se criar discussões acaloradas, com posicionamentos radicais, cria-se também um sentimento de que a liberdade está ameaçada, porém, neste momento devemos refletir, analisar, e não entrar neste clima de ebulição, mas sim tentar identificar o motivo de um levante desta natureza.

Em minha singela opinião, como cidadão que viveu todas essas fases políticas e governamentais no Brasil e que tem grande vivência em todos os sentidos, um cidadão comum como a maioria dos brasileiros - e é neste ponto que quero me posicionar - defendo o povo mais simples: não sou uma estrela que a Fiesp, a grande mídia e o sistema que monopoliza os grandes negócios do país, procuram para emitir opinião sobre o manifesto lançado pela entidade no dia 4 de agosto, “em defesa da democracia e da Justiça”, e que se soma à carta pró-democracia encabeçada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), que será lida no próximo dia 11 e que tem como signatários professores, advogados, empresários, artistas, magistrados, sindicatos e políticos, entre outros.

Nem eu, nem você, que me lê neste momento, cidadão comum tanto quanto eu, fomos convidados a escrever ou assinar este manifesto. A culpa pela situação do país não está em pessoas como nós (pessoas, repito, comuns, vulneráveis) que muitas vezes não compreendem a realidade do Brasil; não fizemos parte do clima gerado, dessa discussão se a democracia está em jogo ou não. O que percebemos é que esse grande grupo está se manifestando, com todo esse ‘poderio’ gigantesco, causando um clima de instabilidade, se posicionando de maneira radical, emocional, política, com interesses muitas vezes escusos, visivelmente próprios, em que cada um pensa em sua sobrevivência, deixando pessoas comuns à margem, para serem manipuladas de maneira vergonhosa, como se fôssemos marionetes, cuja única serventia é o voto que dispomos, para se perpetuarem no poder.

É assustador constatar que entidades públicas, juristas, imprensa e classe artística empreguem esforços - uma parte da população - em detrimento da outra. Seja alegando que a direita é antidemocrática, ou que a esquerda é corrupta, causando divisão na população quanto à raça, religião, ideologia, classe social, entre outras. Não é porque o cidadão comum, sendo mais humilde e tendo um posicionamento diferente, deva ser discriminado. Não é porque pensa de modo diverso ou expressa o que pensa, que deva ser tratado de forma inferior, sendo submetido a leis que cerceiam seu direito de expressar-se livremente. Esses grupos que se mobilizaram para fazer o “tal manifesto” são na verdade, os mentores da atual crise que separam, segmentam o Brasil, responsáveis pela miséria social que se perpetua através da concentração de riquezas e mordomias. Consciência, senhores, tudo o que peço é consciência para admitir que o que deveria ser discutido neste momento não é a redemocratização do país, e sim todas as mazelas vividas pelo povo brasileiro.

Infelizmente, esses grandes grupos que representam poucos, esquecem que o Brasil é UM somente, uma nação que não deve ter divisões, lados e sim um país homogêneo em meios às diferenças, equilibrado, onde todos devem trabalhar para o bem comum, vencendo as dificuldades, estimulando as potencialidades, priorizando de fato a educação e a cultura, capacitando e fomentando a participação de homens e mulheres na construção de nosso país.

Univaldo Etsuo Sagae é cirurgião do aparelho digestivo e coloproctologista em Cascavel, Paraná.