A complexa convivência em condomínios
Viver em condomínio é um exercício constante de convivência e paciência. Quem já passou ou vive essa experiência sabe que a proximidade física entre as pessoas pode tanto nos aproximar quanto gerar conflitos. À medida que os moradores dividem espaços, responsabilidades e regras, surgem divergências de todos os tipos — do uso das áreas comuns ao comportamento cotidiano dos vizinhos.
Os conflitos são variados: quem pode ou não ter animais de estimação, o uso do elevador social, a reserva do salão de festas, o barulho fora de hora, ou mesmo a simples presença de alguém que, por algum motivo, incomoda outro morador. O ambiente condominial, que deveria representar harmonia e cooperação, muitas vezes se torna palco de disputas de interesse, vaidades e ruídos de comunicação.
O papel do síndico: liderança e mediação
Se viver em condomínio já não é tarefa fácil, administrar um é ainda mais desafiador. O síndico, figura central na gestão condominial, precisa lidar com pessoas, egos e expectativas — tudo isso em um espaço coletivo onde cada um se considera dono, mas poucos se dispõem a cooperar verdadeiramente.
Como em qualquer organização, há síndicos comprometidos e síndicos ausentes. Os bons síndicos são aqueles que compreendem que sua função vai muito além de cobrar taxas ou fiscalizar regras; eles são mediadores de conflitos e promotores de convivência. São líderes que, mesmo diante do impossível — a harmonia plena —, buscam o equilíbrio possível.
Soluções práticas e humanas
Ao longo dos anos, tive a oportunidade de entrevistar vários síndicos e síndicas. Alguns impressionam pela sabedoria prática e sensibilidade na gestão. Uma delas, por exemplo, adota uma estratégia simples e eficiente: promove o diálogo direto entre as partes em conflito. Coloca os moradores frente a frente, sem intermediários, para que conversem e compreendam o ponto de vista um do outro.
Como ela mesma afirma: “Sou síndica, mas não sou dona. Não imponho nada. Os conflitos precisam ser resolvidos por quem os vive.” Essa postura revela maturidade e respeito à autonomia dos moradores, estimulando a corresponsabilidade na vida comunitária.
Outra síndica, com perfil igualmente prático, propõe algo provocador: pede ao morador que reflita sobre suas próprias atitudes. “E se você fosse o síndico? Como agiria diante do seu comportamento?” Essa inversão de perspectiva convida à empatia e ao autoconhecimento — virtudes raras, mas indispensáveis à boa convivência.
O síndico como líder singular
Administrar um condomínio é, em muitos aspectos, semelhante a administrar uma empresa — com uma diferença crucial: ela não é inteiramente sua, mas todos os “clientes” são também sócios. É um espaço de gestão compartilhada, onde os interesses se cruzam, os direitos se sobrepõem e as responsabilidades precisam ser constantemente lembradas.
Nesse contexto, o síndico se destaca como um líder singular. Sua missão vai muito além de gerir finanças ou supervisionar obras; ele administra seres humanos. E talvez não haja desafio maior do que esse.
Conclusão
A vida em condomínio é o reflexo condensado da vida em sociedade. Conflitos são inevitáveis, mas podem ser administrados com diálogo, empatia e liderança ética. O síndico que compreende isso deixa de ser apenas um gestor de espaços e se torna um mediador de relações — alguém que, no meio do concreto e das paredes, ajuda a construir algo ainda mais importante: a convivência humana.