O mito é mortal.
Será lançado nos Estados Unidos e na Europa um livro que busca mostrar o outro lado de uma das maiores personalidades do mundo, Bill Gates. A obra tem como uma de suas maiores relevâncias a temática que se propõe a discutir. O título e o subtítulo dizem muito, em tradução livre, já que não há previsão de ser lançado no Brasil, “O problema de Bill Gates: Um acerto de contas com o mito do bom bilionário”.
Hoje, o ser humano que expressa a tecnologia da informação e a preocupação com o planeta e com as questões sociais é um ser real ou há um ser humano por de trás, construído para ser adorado e na sua vida privada não é tão adorável assim. No início de sua ascensão, ele foi acusado por pessoas que trabalharam ao seu lado de ser “arrogante e ganancioso”.
Gates não está só entre os personagens que são mitos de bondade e gentileza na expressão e por de trás do palco tem um comportamento questionável. O seu rival e símbolo de tecnologia também, Steve Jobs, cofundador da Apple e falecido em 2011.
Charles Chaplin, o cineasta, diretor e um símbolo da chamada “sétima arte”, o cinema, também era considerado uma pessoa contraditória em sua vida pessoal. Marcado por ações de agressão.
O herói é demasiadamente humano.
Meus caros, há um ser humano por de trás de ídolos, há pessoas comuns que expressam o sucesso. Aquele que é construído como um herói é também um ser falível e indesejável em determinados aspectos. Eficiente e falho, o ser que construímos como mito é uma expressão de nossa fachada, ele não condiz com a realidade.
Mas, por que o idolatramos? Acredito que precisamos de ídolos, de heróis. Necessitamos estabelecer a possibilidade de existirem seres que em sua bondade nos tragam a esperança de que se pode ser melhor. O sucesso se tornou um modelo de perfeição humana que não pode ter manchas, isso é um erro.
Essa nossa necessidade de heróis, de seres que ilustrem o nosso desejo da “perfeição”, tem um mercado atraente e um consumidor carente. Porém, fundada em uma ilusão que o olhar mais atento desmancha com facilidade, que a reflexão mínima sobre a vida daqueles que conhecemos denuncia, o sucesso tem um preço, o próprio insucesso.
Não projete um sonho, veja a realidade.
Se em uma determinada faceta de nossas vidas expressamos a qualidade que encanta e provoca admiração, ela tem um custo. Algo foi o foco da atenção em detrimento de algo, de alguma outra coisa, de alguém. Para nos tornarmos desejados por um comportamento, fomos negligentes em outro. Somos doces e amargos ao mesmo tempo.
E acredite, não há remédio para as contradições humanas e sim uma escolha, conhecer e compreender como as pessoas são ou nos esconder por de trás das idolatrias enganosas que criamos.
Sobre o que devemos refletir é o que desejamos cultuar para os outros e qual a consciência que temos do que somos. Este é o ponto de partida para o entendimento humano e não a projeção de uma perfeição tão exigida e a qual nós mesmos não somos capazes de cumprir.