Tudo o que fazemos tem consequências.
Cada um tem o direito de fazer o que quer? Sim, claro que tem. Mas, deve se responsabilizar pelo que fez. Esta é a condição fundamental. Mais que isso, ao fazer a sua escolha, estamos nos colocando diante do mundo, ou seja, estamos mostrando ao mundo o que ele deve escolher. Nosso comportamento é nossa expressão. Logo, o que fazemos é aquilo que consideramos que todos devem fazer em nosso lugar e na condição em que estamos.
Quando somos livres, para pensadores como Kant, por exemplo, a liberdade que nos é particular está em um ambiente na qual ela só pode existir na condição coletiva. E se somos livres, temos que levar em consideração a liberdade dos outros na proporção que temos. Por isso, nossos atos legitimam os atos dos outros.
Logo, os delitos cometidos por nós demonstram que consideramos que o delito praticado pelos outros são também legítimos. Se agredimos, legitimamos a agressão dos outros na mesma proporção e lugar. Se traímos, consideramos que a traição é prática que devemos esperar que o outro faça.
Gostamos de fazer e nem sempre do que os outros fazem.
A maioria das pessoas não gosta de ser agredida, traída, enganada, discriminada, violentada, enfim. Porém, praticam a violência e se incomodam quando são agredidas na mesma proporção.
Conheci muitos líderes que são desconfiados em relação aos seus funcionários, temem que sejam enganados por eles. Porém, o que isso denuncia? Possivelmente, enxergamos no outro uma prática que teríamos se estivéssemos no lugar deles. Da mesma forma que tememos que as pessoas façam conosco o que poderíamos fazer com elas.
Por isso, vale o ditado, a sentença fala mais do julgador do que de quem é julgado. O que desejamos e esperamos dos outros denuncia quem somos.