Na década de 1920 o Brasil discutiu arduamente sua formação. O desejo de criar um sentimento de brasilidade tomou conta da literatura, dos debates políticos, das artes e de um projeto de integração nacional.
A discussão ganhou corpo um pouco antes, quando o processo de decadência do trabalho escravo estava se processando no Brasil. O último país a acabar com a escravidão no ocidente teria que discutir suas origens. Até hoje este é um tabu para os brasileiros.
Os discursos oficiais de mais de 100 anos branquearam o Brasil. Parte considerável dos que estão vivos ainda hoje ouviram nos bancos escolares uma história de formação do país marcada pela valorização explícita ou implícita do elemento ocidental europeu.
A resistência e a violência em incorporar nossa formação afroindígena ainda é considerável, grande, e notada em diversos momentos.
Os números estão aí. Não precisa ir longe para compreender o que a escravidão deixou de legado. Os pretos são mais de 75% das vítimas de homicídio, segundo dados do Mapa da Violência de 2021.
Quando o assunto é renda, os pretos ganham 73% menos que os brancos, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pretos são 70% dos que estão abaixo da linha da pobreza no Brasil.
Sim, há um país que ainda fecha os olhos para sua formação, sua origem, suas raízes e construção enquanto um povo. Há uma discriminação exercida de forma sorrateira, maquiada, camuflada e sínica.
Há um longo caminho a percorrer até o Brasil reconhecer suas verdadeiras origens e o que é enquanto sociedade.
Orgulhosamente somos o país mais afro fora da África, somos o país mais asiático fora da Ásia, temos algumas das maiores colônias europeias fora da Europa. Sim, somos um país de encontros. Por isso, um povo único.