Quem faz com que as plantas cresçam não são os jardineiros, a natureza em si lhe dá o impulso pela vida, mas a beleza do jardim requer cuidado de quem planta e cuida na busca de um resultado. Este é o papel do jardineiro. Aquele que conhece a lógica da natureza tende a ter mais eficiência com a beleza do jardim. Porém, os que deixam a própria sorte vão colher o que a fortuna lhes trouxer.
Onde crescem as ervas daninhas há também a beleza das flores. O solo é o mesmo, mas o ambiente que é tratado com prevenção sabe da necessidade de poder o crescimento de um e atender as necessidades do outro. Se a praga cresce não lhe foi podada a origem e também lhe é dado alimento para que prossiga crescendo. A flor sufocada morre e não há porque lamentar a sorte e sim reconhecer os erros no cuidado do jardim, do ambiente.
Assim é a vida na sociedade quando falamos daqueles que tem o poder de cuidar do que cresce no terreno. Das possibilidades que o ambiente social dá, seja a vida privada ou o profissional, estamos sempre diante de gerar campo fértil para o bem ou para o mal.
Agora os noticiários falam dos maus comportamentos. Das práticas de risco que as pessoas estão fazendo em relação a pandemia. Querem entender a origem disso. Ficam indignadas de como os seres humanos se colocam em risco por não suportar mais viver enclausurados, querem a liberdade mesmo que gere contaminação.
Esquecemos de considerar que estas pessoas estão acostumadas ao desrespeito às regras e se sentem estimuladas com a vida imediata. A desobediência e o atendimento aos desejos colocam em risco qualquer necessidade. Não foram educadas para isso. Para parte considerável dos que arriscam a vida, o exemplo da morte dos outros não lhes interessa, cada um que enterrem seus mortos.
A quantidade de pessoas que morreram por causa da Covid-19 cresce na proporção em que vai perdendo a dimensão. Somos mais adeptos dos dramas particularizados do que da multidão exterminada. Nossa precariedade na contabilização da vida só consegue entender a dimensão do que é mentalmente capaz de quantificar e perceber o efeito. Os quase 127 mil mortos se transformam em massa sem sentido, sem rosto e significado, para uma parte considerável da sociedade.
Nunca podemos esquecer que o descaso é fruto de um ambiente que o gerou, a obra do acaso é falta de cuidado com o lugar onde as pessoas nascem e vivem. A desvalorização da vida gera sempre uma convivência bestial com a morte. Permitimos que os lugares se contaminem e não nos preocupamos com os resultados do mal cuidado.
Estamos sempre focados nos desejos e não estamos preocupados com as necessidades das pessoas. Vivemos para satisfazer o imediato sem entender que aos poucos perpetuamos um ambiente que pode ser nocivo a nossa sobrevivência. Fazemos esta prática em casa, com nossos filhos e com a vida de maneira geral. Nossa jardim cresce contaminado e sua beleza se desmancha, aos poucos vai se transformando em um matagal.