Este país passa fome. Isto não é novidade. Contudo, ocorreu uma diminuição gradativa desta condição até 2014. Depois voltou a aumentar. Quem anda pelas ruas percebe o aumento do número de pessoas pedindo nas ruas. A condição de risco atinge cada vez mais brasileiros.
O quadro da pobreza é lamentável. 19 milhões de pessoas passaram fome no Brasil em 2020. 13,5 milhões na extrema pobreza. Desta população, 72,7% são pretas e pardas. A pobreza no país atinge 52,7% da população. Ou seja, 6 em cada dez famílias têm risco alimentar.
Esta condição não surgiu do acaso. A história deste país denuncia a origem da desigualdade. Somos formados pelo excesso e pela falta. Se por um lado a riqueza que o país produz é significativa, a miséria se traduz na produção contrária.
Nossa formação econômica agrária se sustentou em uma escravidão intensa e extensa, ao mesmo tempo que gerou uma população marginal na periferia da organização escravocrata dominante. Os que não estavam incluídos na condição de senhores e escravos não foram alternativa eficiente para gerar uma economia alternativa que se sobressaísse e superasse a permanência do trabalho compulsório.
A ironia está em que o país é um dos maiores produtores de grãos do mundo e as famílias brasileiras têm 70% de sua mesa sustentada pela agricultura familiar. Produção que sempre atravessa dificuldades para se manter viva no mercado. A soja produzida no país não tem o destino da mesa no caminho que hortifrutigranjeiros têm, passa pela industrialização e ocupa uma função distante da alimentação básica.
Temos inúmeros programas sociais. Em sua grande maioria não conseguem atingir seu objetivo. Em parte por remediar e não alterar de maneira definitiva a realidade das pessoas que são atendidas. Alimentamos os miseráveis e não combatemos a miséria, esta é a lógica das políticas públicas em sua maioria.
Aliada a isso e com importância na discussão da fome está a falta de instrução. A formação de um brasileiros capaz de gerar a sua própria vida e não depender de ninguém. Agir diante de sua realidade dominando parte das condições necessárias para superar a miséria que o ameaça.
Liberdade é dar autonomia alimentar e intelectual, gerar habilidade para que o capital humano seja capaz de traçar seu próprio destino, nutrido orgânica e intelectualmente.