Qual você considera à primeira vista
O que chama a atenção em uma pessoa quando você a vê pela primeira vez? Mesmo uma segunda vez?
Há várias formas de tentar responder a esta pergunta. Educado e de boa índole, tentando ser ao máximo polido e ter o aceite dos que estão esperando suas respostas, você diz, a simpatia dos gestos, suas primeiras movimentações, opiniões. Será?
O corpo seria o cartão de visitas ideal?
Bom, claro que podemos considerar que você dirá, depende das intenções de quem olha. E eu concordarei com a resposta. Isto mesmo, há interesses e intenções dos dois lados.
O que cultuamos se expressa na forma que nos comportamentos. A vaidade tem inúmeras intenções. As pessoas desejam estar atraentes ou ser atraentes? Qual a satisfação com se vestir da maneira que se quer e o porquê se quer se vestir de determinada forma conta. Mas, para que interesse no fim das contas?
Empresas sabem enfrentar a diversidade estética?
Empresas que atuam no mercado de estética, seja nos produtos de beleza ou confecções, assim como calçados, sem deixar de considerar inúmeras outras, pregam um padrão de beleza.
Ele inclui alguns e discrimina muitos outros. E estes tantos que não se sentem identificados com o padrão usado nas campanhas publicitárias não se sentem “normais”. Por sinal, se sentir normal ou anormal é algo engraçado quando pensamos em estética.
A definição de um corpo belo é sem dúvida uma expressão cultural. Porém, quando pregamos a diversidade existe um corpo ideal, um padrão de normalidade?
Acredito que não, mas há um diálogo entre o que desejamos como normal e o que abolimos como princípio do “aceitável”. Na busca de incluir todos podemos perder o critério do que estamos defendendo.
Onde fica a normalidade?
Se generalizar é um risco e particularizar uma agressão, onde estaria o “meio termo”?
Difícil de achar, impossível de se definir em uma sociedade como a nossa, onde as possibilidades acabam por gerar variáveis. O que quero dizer com isso? Quanto mais opções e condições de gerar estéticas distintas, o desejo de ser algo que seja aceitável se amplia.
Há cientistas sociais que consideram que estamos vivendo a tribalização. Estamos organizando redutos próprios onde as pessoas se identificam por critérios próprios e se alimentam de seu grupo para gerarem inclusão e exclusão.
Contudo, nas empresas não tem esta possibilidade e nas famílias que não se tribalizam isso pode gerar confusão. O que não são da nossa turma merecem conviver conosco?
Tolerância é fundamental.
Na década de 1940, um ginecologista, Robert L. Dickson e um artista plástico, Abram Belskie, fizera uma pesquisa com três mil pessoas para definir um padrão normal estético de um ser-humano, tanto para homens como para mulheres. E, ao final, descobriu que a média é o que inclui apenas 1% das pessoas reais.
Sim, 1% dos pesquisados eram o perfil do padrão, contudo, a grande maioria que estatisticamente gerou a média não se encaixava nela.
Logo, temos que atender mais aos seres humanos que existem do que a média que se tenta buscar. A mesma coisa devemos considerar para aqueles que taxamos de “normais” ou “anormais”.
As empresas estão considerando que as pessoas estão descobrindo o próprio corpo. Elas estão percebendo que é melhor viver e amar ao que se é e não desejar o que não se tem. Lembrando que, o que não se tem é um ideal impossível de se cumprir e não tem sentido em ser realizado.
As empresas estão mudando
Avon, Boticário, Natura e muitas outras empresas do ramo de higiene e beleza pessoal, até mesmo a Unilever, estão adotando campanhas que rompem o com o padrão de beleza e pregam a normalidade. Em muitas destas empresas o termo “padrão” e “normalidade” foram banidos. Isso é bom!
Pesquisa feita pela Unilever com 10 mil pessoas, de ambos os sexos, 80% dos que participaram consideram que as empresas têm responsabilidade na inclusão e podem ser agentes de exclusão. Campanhas que pregam o padrão de beleza são agressivas.
No mundo onde a publicidade se transformou em uma pregação de vida e do sentido que ela tem, ter cuidado com as mensagens é fundamental. Saber até onde o que consideramos que é uma vontade comum tem respaldo na percepção e sensação real que as campanhas publicitárias geram.
Abrace a cauda e rompa com esta normalidade!