A diferença entre os mais ricos e os mais pobres neste país permite encontros inusitados. Vem comigo nesta história de dois lados. Um empresário compra um imóvel para fazer um investimento. A casa está fazia, a espera de alugar ou vender, em um bairro popular.
Pela lógica econômica, investir no mercado imobiliário é seguro e rentável. E você sabe que segurança é tudo o que um empresário quer. O equilíbrio entre esta condição e a lucratividade nem sempre é possível, coisa rara no capitalismo.
Mas, será que é tão seguro assim? A resposta é que seria se não fosse a própria condição que o faz ser lucrativo, uma contradição. A quantidade de pessoas que não tem onde morar é grande. Muitos estão à procura de um imóvel. Contudo, a grande maioria, não tem como comprar. Demanda maior que a oferta tende a valorizar o bem.
O outro lado desta história caminha pelas ruas diariamente. As pessoas necessitadas. Aqueles que perderam o emprego, estão em situação de risco e muitas vezes despejados na rua.
Assim é a condição de uma mulher e seus filhos. Caminhando pela rua sem ter onde morar, encontrou a casa vazia, escolheu aleatoriamente, invadiu. Instalou seus móveis.
Se o empresário que comprou busca ganhar, ela não tem nada a perder. O risco do despejo, da expulsão, da agressão, já é esperado. Na lógica de mercado, seus riscos são menores e perdas também. Ela aplica pouco e o que vier desta investida trará no mínimo alguma coisa.
O fato descrito acima, aconteceu em Maringá, no noroeste do Paraná. É fato. Acontece em muitas cidades brasileiras. O número de pessoas sem teto no Brasil, dados de 2020, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), é de 222.869.
Não pense você também que o empresário que teve a propriedade invadida é o topo da elite brasileira. Não é. Lembrando que os 10% mais ricos detém a renda de 59% da população do país.
No caso das famílias que não tem renda, vivem de algum benefício ou simplesmente corre o risco da vida pelo acaso, segundo dados da mesma pesquisa do IPEA, representam 23,3% dos domicílios. O índice já foi pior em plena pandemia, 2020, chegou a 28,5%.
Na prática o que assistimos é o encontro entre quem tem alguma coisa e quem não tem nada. Um vive perto do outro ou próximo o bastante para causarem atrito. Esta invasão denuncia bem a nossa realidade. O Brasil está nas ruas todos os dias. Só não enxerga quem não quer e não vê quem não conhece.
Para atualizar você. A mulher e os filhos que invadiram a casa já foram retirados. Ela continua sem teto e andando por aí a espera de uma nova “oportunidade”.