Criamos mitos e distorcemos a realidade
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Opinião

Criamos mitos e distorcemos a realidade

Por Gilson Aguiar em 11/09/2024 - 08:00

Heróis são ideais e não reais.

Construímos heróis, eles não existiram da maneira que ficam registrados. Eles, em sua vida real, não foram o exemplo que se eterniza. Na prática, em suas vidas, não foram o modelo que deixam como memória. Os heróis são mais uma construção de nossas projeções na tela da carência. São moldados pela referência do valor que buscamos e não pela realidade de um ser humano e suas contradições. 

Um dos exemplos emblemáticos é Mahatma Gandhi, o líder indiano que traduz na história a liderança na luta da Índia pela sua independência em relação à Inglaterra. Advogado, o líder da resistência pacífica, “Satyagraha”, acabou sendo conhecido como “grande alma”. 

Apesar de tímido, se dedicou a luda à favor dos indianos quando viveu na África do Sul e sentiu na pele a discriminação. Expulso de um trem por estar na primeira classe e ser indiano. Pelo menos assim conta a história. 

Gandhi tinha seus poréns, era um ser humano de seu tempo, em uma Índia tradicionalista, carregada de valores fundados na religiosidade hindu da qual ele era adepto fervoroso. Para o marco da “resistência pacífica”, as mulheres eram inferiores, a casta que dividia os indianos não era questionada por ele, tanto que tinha pouco interesse nas questões dos dalits (intocáveis). Mesmo tendo vivido mais de vinte anos na África do Sul, considerava os indianos superiores aos sul-africanos. 

Pessoas são uma expressão de seu tempo.

Gandhi era um ser humano de seu tempo. 

Será que temos que desprezá-lo por ter um perfil congruente com os valores da sociedade da qual fez parte? Creio que não. 

Apenas considero que devemos ter cautela ao desumanizarmos o herói. Ao dar aquele que é o ídolo um invólucro desconexo a sua condição de um ser de seu tempo. O que não significa desprezar sua obra e suas ideias. 

Por isso, as paixões nos cegam. Faz com que não olhemos para as pessoas com ciência e consciência do que elas são. Acabamos deformando os fatos que devem nos servir como critério de medida para avaliarmos nossas ações. 

Sociedade que constrói ídolos e os coloca no panteão dos heróis pode esquecer os limites humanos e agir de maneira extrema. 

Ironicamente, os imperfeitos, apaixonados pela perfeição, condenam as imperfeições que são suas principais características.

 

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