Tenho 55 anos e nunca pensei que viveria a crise institucional que vivo hoje. Assisti a queda do regime militar, vi as Diretas Já ganhar as ruas e recuar diante da votação indireta de Tancredo Neves. Acompanhei a redemocratização real longe da ideal que se desejava no país. Fui um militante ativo dos embates políticos que o país viveu, assim como suas mazelas econômicas.
O processo eleitoral brasileiro atravessou instabilidades ao longo dos anos. Desde 1985 acompanhamos a redemocratização desenhada com avanços que pareciam se consolidar ao longo do tempo. O país melhorou. A economia melhorou a condição de vida e a instrução. A nação conquistou avanços em diversos campos necessários. Melhoramos. Não dá forma deseja e idealizada. Esta efetivamente nunca se realiza e é sempre uma busca.
Agora, o circo se instala e a mediocridade emerge. O avanço se entrega a desestabilização. O antagonismo da tolice acaba por demonstrar que a liberdade do tolo dá vazão relevante a insensatez. Discutimos e estamos prestes a votar retrocessos. A perder o que parecia consolidado. Se quer mudar a regra do jogo por uma questão mínima. Eu não pensava que o sólido se desmancha quando enxarcado pela liquidez do absurdo.
É, os 55 anos já deveria saber que quando as relações se perpetuam e as intenções permanecem, qualquer mudança nas regras não freia os vícios que sempre estiveram no poder. Em um Estado criado de cima para baixo, viciado na imposição e não na representação, há uma dificuldade imensa de respeitar o direito de todos.