De boas intenções o inferno está cheio
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De boas intenções o inferno está cheio

Por Gilson Aguiar em 23/08/2023 - 08:00

A velha história das “boas intenções”

Mais vale o sentido, a intenção, ou a ação? Nem sempre o que nos leva a fazer alguma coisa é o que a atitude denuncia ou faz parecer. Para que você entenda melhor, é aquela velha máxima que se diz, de boa intenção o inferno está cheio.

E te garanto que este tipo de comportamento não está tão distante assim de nosso dia a dia. Quer um exemplo? Muitos pais, preocupados com os filhos, tentando protegê-los. Eles agem para evitar que tenham problemas e, fazendo isso, podem criar um problema maior ainda para outros e para o próprio filho.

Quantos pais encobrem o que os filhos fazem, impõe uma maneira de viver e ser. Na melhor das boas intenções acabam por criar o pior futuro.

Mas como agir de maneira coerente?

A melhor coisa é conhecer com quem está se lidando. Entender que a resiliência, a capacidade de enfrentar a vida e de ter responsabilidade sobre os dilemas que a vida traz só se consegue vivendo. Não tem receita pronta.

A gente pode aprender com os erros dos outros, mas ninguém vive por nós. A vida é nossa e pronto.

Se alguém tem que sentir o gosto da terra para ficar de pé, vai ter que levar o tombo e aprender a se levantar. E na regra do “cai e se levanta”, basta levantar uma vez mais do que cair.

Boa intenção pode ser dose de veneno

Já vi muita gente boa, honesta, de boas intenções, ver seus filhos não terem o futuro que desejavam, não atingirem um comportamento adequado, não saberem lidar com a vida. Estes mesmos pais se culparem e não entenderem o “porquê” que a boa conduta deles não fez do filho um bom ser-humano.

A resposta é simples, por mais que dolorosa. Não se é bom em tudo. E nem sempre quem sabe viver a vida é capaz de criar alguém de bem com ela.

Antes, a algumas gerações atrás, copiávamos a conduta de nossos pais e pronto. A criança, o adolescente, era educado a cumprir o papel que seus pais cumpriam. As relações e possibilidades mudaram esta lógica.

Nossos filhos raramente vão reproduzir nossos papeis sociais. Assim, educar alguém para a vida exige a capacidade de reconhecer que o que somos e pensamos não é o que o outro de fazer e pensar.

Viva e deixe viver

Por isso, muitos pais, cheios de boas intenções, acabam por agir de forma nociva e determinar para seus filhos um mal que seu ato não teve a vontade de expressar.

As consequências desta ação de interesse protetivo e de prática venenosa mata o rebento aos poucos. Ele vai se definhando pela própria fragilidade do excesso protetivo. Se desmancha no sopro da brisa.

Seres fortes são criados com bases profundas, muitas delas plantadas no interior da terra e regadas com fortes experiências. Elas, as doses da vida, não precisam ser traumáticas, mas entendidas como condição vital para viver. Em especial a frustração.

Deixe viver, nem por isso, deixe de amar e compartilhar, de estar perto, o que não significa viver pelo outro e fazer para o outro.

 

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