Volta e meia alguém resolve jogar uma pedra na democracia. Considerar que ela é um mal. Nossas lentidão em resolver problemas, nossa falta de eficiência em tratar questões relevantes para a sociedade que se perdem em debate intermináveis sem chegar em consenso. Logo, alguém dispara, “melhor se fosse uma ditadura”.
Há um certo prazer em ter quem governe os nossos destinos. Nos dê a ordem e aponte o caminho. Facilita viver apenas sem ter que se preocupar onde vamos chegar. Por que não acreditar na promessa do ditador. Logo, há no início de todo o governo ditatorial o discurso de que “ele sabe o que faz”.
Uma nação ou uma empresa, governadas pela ditadura, enfim, qualquer liderança autoritária, lembra um navio dos tempos das grandes navegações. Fora os navios piratas que eram formados pela mais torpe e indigesta população de marinheiros e navegadores, porém não ineficientes na prática da navegação, os navios de guerra e mercantes tinham nos capitães senhores absolutos.
Os marinheiros eram via de regra condenados, embriagados jogados dentro de um navio onde o destino era desconhecido. Se soubessem para onde iam, nunca sabia onde estavam. Somente o mapa do capitão e seus instrumentos de localização eram a certeza do caminho e do destino. Empresas e nações ainda são conduzidas como naos dos tempos do descobrimento.
Não por acaso, a presença de soldados muito bem armados vigiando a tripulação era o instrumento mais eficiente da ordem. A punição exemplar demonstraria quem tem o controle da embarcação. Logo, para sobreviver em uma viagem que tinha seus riscos, a regra era faça sua parte, não se meta em questões que podem custar sua vida, aceite o que for e reze para que o navio não afunde no meio do caminho.
A história é recheada de nações e a nossa vida de empresas que tem um perfil muito parecido com navios e navegações da expansão marítima dos séculos XV a XVII. Por isso, permanecer dentro de um ambiente como este é morrer aos poucos para não morrer rápido. É prolongar a vida sem que ela tem sentido. Ter uma existência pequena. Assim muitos caminham hoje em dia.
Vale lembrar que na tempestade, no combate, no meio de uma pandemia ou de fome dentro da embarcação, a revolta se instalava. Muitos percebiam que a morte viria e que sem alternativa para que continuar obedecendo. Hora em que emergiram os motins. Durante crises em empresas e nações a revolta se instala. Nos negócios com a debandada de funcionários, nos países com as revoltas constantes de uma população que não tem nada a perder, já perdeu tudo.
Diferente do ambiente onde por mais que seja difícil o consenso, as pessoas conhecem o destino e participam das decisões que vão dar rumo ao barco onde estamos todos nós. Há demora nas definições, mas há o comprometimento de todos com os atos tomados. O capitão é uma escolha e não uma imposição. Nas empresas não se escolhe o líder, mas ele não é impositor, se mantém pela eficiência e deixa claro as intenções.
Porém, esta é uma outra história...