Não se convive com projeções
Por que fazemos algo por alguém? Até onde o outro é real ou a construção da minha imaginação? Existe um alguém, mas o que ele é o que considero ser? Pode não ser.
Complexo? Não, apenas questões necessárias e que precisam de reflexão.
Nós projetamos muito. Não convivemos com a verdade, filtramos a realidade para torná-la mais digesta. Por isso, projetar não chega a ser um problema. A questão é, o quanto e como projetamos.
O outro lado da questão é o que fazemos por nós mesmos. O quanto de nosso comportamento é resultado de nossas intenções, nossos interesses, nossas buscas, vontades, ambições ou ganância?
Ou seja, há um ser humano que projeta nos outros e pode ser contaminado pelas suas vontades, pelo que considera de si mesmo, pelas intenções neste mundo.
Diante destes dois polos, é possível ser ético?
Para responder a esta questão, vamos recorrer a máxima filosófica que orienta parte considerável do pensamento ocidental, a tal da razão.
Será que ela deve estar acima de nossas emoções? A razão deve ser a senhora absoluta de nossas ações? Seriámos capazes de conviver e viver limitando o desejo fundado no sentimento? Emoções de afeto e de ódio poderiam ser doutrinas pela razão?
Briga boa essa, não? O conflito entre razão e sentimento. Quem deve vencer no final?
Na atualidade, o sentimento tem ganho vantagem. Os ambientes em que convivemos tem aniquilado o tempo necessário para a razão agir, se impor, ou pelo menos, dar um contraponto.
Estimulados constantemente pelos estímulos imediatos, pelas vontades instintivas, a razão que consegue ser predominante é heroica.
Por isso, se queremos uma ação ética, temos que buscar a clareza ciente e consciente de onde estamos, quem são os outros e quem nós somos. Por mais que exista emoções envolvidas, e elas são necessárias, a razão que nos dá a dimensão do sentido e sentimento legítimos.
Razão não é inimiga da emoção, é a possibilidade de se travar um diálogo entre estes dois elementos que fundamentam a eficiência de nossas ações. Porém, há que se ter uma razão fundada na ciência e consciência, aliadas a um sentimento verdadeiro e duradouro. Só assim seremos éticos.