A escola é reflexo da sociedade.
Estou envolvido com a educação há mais de 35 anos. Já formei pelo menos duas gerações. Vejo o caminho que cada uma delas percorreu até chegar à sala de aula do ensino superior. Fui professor de ensino médio e hoje atuo no ensino superior e na pós-graduação.
Uma das frases mais comuns e vulgarizadas que escutei ao longo da minha carreira é a que a “Educação é transformadora!”. Não acredito nisso. A educação não transforma ninguém, a escola, a Universidade, não são uma fábrica de seres humanos novos. Elas são o reflexo de uma sociedade e nela as contradições sociais se denunciam.
A educação pode ser esclarecedora como pode ser doutrinadora. A educação, os professores, a estrutura educacional, administração e manutenção, são feitas por pessoas. E os seres humanos são o reflexo de uma vida social, das relações que os constituem. Enfim, quem chega na escola tem grandes oportunidades de compreender a complexidade da existência, desde que isso lhe seja interesse.
Conhecer ou não, depende de cada um.
Nem todos têm o interesse de compreender a realidade de forma mais ampla, apurada, racional, científica. Nem todos desejam construir uma consciência complexa e agir de maneira diferente do que agia antes.
O ser humano é a potência que lhe cabe na vida que se tem. Ele decide o que fazer da sua vida. Os critérios que têm para decidir são possibilidades que ele cria, que ele percebe. Se não tem tantas opções em sua compreensão da realidade, pode ser por mediocridade de sua compreensão, fruto de suas próprias limitações e ações.
A mesma aula pode não ser a mesma para os alunos que estão em sala de aula. Para uns, pode ser uma grande descoberta o tema tratado pelo professor, para outros, algo enfadonho e cansativo, há coisas melhores lá fora para se fazer, segundo estes. A boa aula é relativa. Assim, a educação é relativa.
Se uma instituição de ensino quer o maior número de alunos possível dentro de sala de aula, seu critério de uma boa aula é a quantidade. Se há o interesse de se ter qualidade e sentido no que se educa, o critério é outro. Logo, educação é relativa. Por si só não melhora ninguém.
Logo, somos condenados às nossas escolhas e elas fazem toda a diferença. Onde estivermos, o que observamos e escolhemos parte de nós. O que nossa experiência nos possibilita é algo que cabe a cada um de nós determinar e construir o sentido do que se vive. A educação, ela não tem nada com isso. O ser humano se transforma, ele é obra de si mesmo, a educação é uma experiência que cada um dá a ela o significado que considera merecer.