Será que vivemos uma luta entre o bem e o mal?
Se o ser humano vive para o bem, o mal lhe é uma imperfeição. Assim, deve o ser humano buscar agir da melhor forma. Promover o bem.
Porém, quem lhe diz o que é o bem? Como saber definir o bem do mal?
Para Santo Agostinho, o mal é a imperfeição, é um vazio de valor, a ausência de dignidade. Para o filósofo medieval, tudo o que não busca o aprimoramento humano, contribui para o mal.
Saber-se se controlar, saber ser senhor de sua liberdade, é uma virtude para aquele que busca o bem maior. Por isso, o ser humano é capaz de escolher entre a dignidade de servir ao bem ou buscar suas limitações para o mal, viver de suas imperfeições, de seus caprichos.
Onde o mal reside?
Nas buscas de desejos que se limitam a este mundo, onde, para Santo Agostinho, não repousa a verdade.
Para o pensador cristão, devemos ir além do que os olhos veem, do que nossas sensações percebem. Não podemos nos entregar aos desejos imediatos. Nada do que há neste mundo é definitivo e perfeito.
Platão ilustrava essa enganação da aparência em sua Alegoria da Caverna, ou o “Mito da Caverna”.
O imediatismo é um erro para Santo Agostinho. Mais que isso, o pensador cartaginês, cidadão da decadência romana, acreditava que não se terá felicidade neste mundo. A cidade de Deus é perfeita e eterna, diante da cidade dos seres humanos, finita e imperfeita.
Sendo assim, o bem, a bondade, é algo para além desta vida. Não está nas coisas deste mundo, não se alcança com os prazeres da matéria, da carne, das sensações imediatas, desta vida carregada de falhas, de ausências.
O engraçado é que o ser humano tem em sua vida o principal fundamento dos seus interesses, que estão neste mundo. Nele que considera realizar o que se é e o que é o sentido de ser. Porém, nada é de pleno em um mundo marcado pela contradição da imperfeição.
Na ética, só podemos considerar que há valor quando ele orienta para uma ação maior, para preservar um valor que vai além do imediato ou que se torne uma demonstração de respeito ao outro.
Se pensarmos na Ética de Agostinho, é fazer pelo bem maior do aperfeiçoamento humano. Pelo bem maior, que não se resume em nossa vida ou em uma só vida.
Não somos perfeitos.
Nossa imperfeição é uma condição da qual não podemos fugir. Segundo Santo Agostinho, somos forjados na imperfeição, nascemos dela. A existência humana só pode ser concebida pela ausência de plenitude. Logo, uma vida humana tem começo e fim, logo, limitada no tempo, comprova sua imperfeição.
O perfeito é permanente. Não se encerra, não é perene e nem se desintegra ou denigre. A existência humana com prazo de validade, é o tempo curto para o ser humano exercer a liberdade na busca de sua perfeição. Por isso, a ideia de que a vida é agora e devemos fazer o que desejamos porque a vida é curta, não cabe no pensamento agostiniano.
Para que a ética se estabeleça, segundo Agostinho, o caminho a seguir não é um de um ser só. Mais que isso, deve ser o além da vida, o resultado não será admirado, muitas vezes, para quem exerce a ação.