Somos uma construção de inúmeras culturas. Inegavelmente o país é um “ponto de encontro” em que inúmeros povos, originários e migrantes, se encontraram, nem sempre de forma harmônica, dentro do território nacional. Nossos encontros foram marcados por “sangue”.
A religiosidade formou no Brasil parte considerável de sua identidade. Nossas matizes portuguesas, africanas e indígenas se expressam em nossos crenças, rituais. O cristianismo predomina e ganha conotações e coloridos de magia. O Brasil é um país de rituais mágicos dentro dos templos cristãos.
Desde a colônia, as famílias abastadas, o senhor de engenho, o grande produtor rural, o senhor de escravos, apostava sua fé nos rituais mágicos, na benzeção. A receita de uma erva, a garrafada, o mau-olhado. Este país fez da crença uma expressão de sua mistura.
Porém, nega e discrimina as matizes africanas como nenhum outro. O II Relatório Sobre a Intolerância Religiosa na América Latina e Cariba mostra que houve um aumento de discriminação religiosa no Brasil.
Através de uma pesquisa do Disque 100, número usado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o número de denúncias de discriminação religiosa aumento absurdamente com a fim das restrições. A convivência social levou ao aumento da expressão da discriminação. O curioso, em um número maior que 2019.
Segundo o levantamento, em 2019 foram 477 denúncias de preconceito, discriminação e violência religiosa, já em 2020 o número caiu para 353 e chegou em 2021 a marca de 966 casos. Ficamos mais agressivos depois da pandemia?
Acredito que vivemos uma associação de questões religiosas com temas políticos e econômicos, o que gera uma identificação perigosa e irracional. O fanatismo religioso acaba por generalizar temas que não se coadunam. O que é um campo fértil para ascensão da violência.
A religiosidade é uma particularidade, uma escolha de cada um, uma construção pessoal e coletiva que temos que respeitar. Dentro da lei, a religiosidade não deve ser questionada desde que não passe dos limites que venha a ferir os direitos fundamentais. Não podemos admitir retrocessos.