Não é fácil ser racional neste país. A busca de compreender um fenômeno social ou conduzir uma relação pautada em uma lógica minimamente científica tem se tornado um problema. O brasileiro é místico em demasia, associa fantasias e valores sem sentido, cultua a hipocrisia em excesso.
Consideramos que o tráfico de drogas é coisa de bandido favelado e nunca discutimos que os mais ricos são os maiores consumidores. Logo, se há quem vende é porque há quem compre.
Se queremos combater o tráfico, devemos levar em conta o que vamos fazer com o dependente químico, que em sua maioria não vai parar na cracolândia, leva uma vida normal e ninguém percebe. Ou você considera que dependente químico sai por aí dizendo que consome drogas?
Outra ilusão é o aborto, ele é praticado por mulheres mais velhas, com filhos e relação estável. Enquanto nós consideramos que são as mais jovens, solteiras e de baixa renda. Mais uma vez, que aborta não fale, se esconde atrás da culpa apontada para o outro e segue a vida na lista dos inocentes sem ter que carregar o peso social da culpa.
Reclamamos da falta de representatividade e distância dos homens públicos de suas bases eleitorais. A longo da história política do país o Estado se agigantou, criamos uma dependência intensa das pessoas em relação ao patrimônio e aos recursos públicos. Formamos uma casta de burocratas, senhores da máquina pública, políticos hereditários e profissionais muito bem pagos que são fiéis ao poder e ao tamanho do Estado.
E as nossas empresas, aquelas bem-sucedidas, em sua maioria, tem no Estado ou em seus representantes os sócios de seus negócios mais retáveis e obscuros. Você não se esqueceu de como a Odebrecht cresceu ou a JBS se tornou um sucesso, esqueceu?
Enfim, só toquei no assunto para você refletir que nós somos hipócritas. Defendemos fantasias e discutimos a superficialidade sem debater a fundo o problema. Somos pecadores de semana que rezam no fim dela e sentem purificados por fazer o sinal da cruz ou dizer amém. Mas a vida são nossos atos e o pecado é ficar com os olhos fechados para eles.