Ela se foi. Deixou um vazio no coração. Sentimento apertado pela sua ausência. Se pudesse, eu a traria de volta. Estas expressões você já ouviu, não é? Inúmeras vezes.
O que as alimenta? O sentimento de ausência e o desejo de preencher “o vazio”. A incômoda medida do outro. Ela ou ele foi embora, abandonou a relação, e se tem que conviver, nem que por algum tempo, com o poder que o outro tem sobre a sua vida.
Quando isso acontecia, em um passado não muito distante, se sabia que a maturidade viria com o sabor amargo de uma ruim digestão emotiva. Contudo, passaria.
O próximo relacionamento seria diferente. Menos entrega, mais juízo, menos expectativa, enfim, melhor. O “coração” já tinha seus calos.
Porém, agora, existe o Replika AI. Um aplicativo que se relaciona com você e pode assumir contornos de quem se foi. Quanto mais você o alimenta com textos, fotos, informações, ele se molda e interage. Ele pode ser a forma de “preencher” a ausência.
Onde fica o aprendizado da perda? Onde fica o calo no coração que nos faz maduros nas relações?
Assim como o Chat GPT, o produtor de conteúdo inteligente, emburrecendo mentes, agora encontramos a fórmula perfeita de gerar um imbecil emocional. Nunca rejeitado, alimentando um amor platônico e convencido artificialmente de que achou a “tampa de sua panela”.
Vai ficar mais difícil encontrar alguém inteligente, maduro e que seja real. E, se prepare, apesar do envelhecimento da população, seremos governados por mentalidades infantis.
As pessoas estão ficando intolerantes e birrentas. Se posso te trocar por um relacionamento artificial, qual é o meu grau de tolerância às frustrações emocionais? Pequeno, ralo, na prática, inexistente.
Descarto os seres que me frustram, não suporto qualquer tipo de “ruído” na minha relação. Este está se tornando o perfil dos que agora tem a oportunidade de construir a pessoa ideal e artificial.
Não fica difícil de entender os fatores que motivam os seres humanos na atualidade não desejarem se vincular a alguém real de forma permanente. Por isso, os filhos não querem ter filhos, sabem o quanto é chato e frustrante criar e conviver com um ser humano.
Por isso, os filhos reclamam imensamente da presença dos pais. Desejam que eles lhes atendam em todas as suas demandas. Porém, sabendo o quanto são insuportáveis, preferem não arriscar, logo, abrem mão de terem filhos.
Logo, o Replika veio e vai ter adesão, terá clientes. Dará a sensação de satisfação a um ser que foge desesperadamente de si mesmo. O pobre ser só não percebe que quanto mais se relaciona com o ser criado para lhe atender se tornará insuportável para se conviver.