Líderes que banalizam o mal
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Líderes que banalizam o mal

Por Gilson Aguiar em 29/01/2024 - 08:00

Executar ordens é compactuar com elas?

Obedecer cegamente, justificar o ato que considera injusto uma consequência de seguir regras. Isentar-se da culpa e afirmar que o ato cometido é necessário. Esta é uma definição comum na atualidade. Pessoas que cometem atos de banalização da vida, massificam e generalizam situações agressivas ou desumanas e justificam o ato como sendo “a regra do jogo”.

Te convido a ler ou conhecer melhor uma obra que trata desta questão, “Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal, de Hannah Arendt”. A obra fala sobre o julgamento de um tenente-coronel alemão, Adolf Eichmann, pertencente a SS, braço do Partido Nazista para a perseguição e execução dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945).

Eichmann foi responsável pela logística de extermínio judeu durante a ditadura atroz de Adolf Hitler, a chamada “Solução Final”. Ao final, mais de seis milhões de judeus foram mortos pelo regime.

O tenente-coronel da SS conseguiu fugir para a Argentina, onde foi descoberto por um grupo de investigadores judeus e levado a Israel para julgamento. Acabou sendo condenado a morte no início dos anos de 1960.

Totalitarismo se alimenta de “obedientes” cegos.

Hannah Arendt, uma das maiores pensadoras do Século XX, de origem judaica, uma crítica do totalitarismo, transformou o argumento do oficial alemão durante seu julgamento como ponto de partida para uma análise sobre o comportamento humano.

Eichmann argumentou como tese principal de sua defesa de que cumpria ordens. Ele afirmava que era um burocrata, executava o que lhe era mandado da melhor forma possível, na busca de construir uma carreira de sucesso, ascender na estrutura.

O que ele argumentou é a prática cotidiana da isenção de vontade de quem apenas obedece. É assim que a imposição autoritária arregimenta os que reivindicam inocência participando de uma prática agressiva, de extrema violência, de atos de injustiça.

Eichmann é personagem comum nas empresas.

Hoje, nos mais diferentes postos dentro das empresas há apenas o cumpridor de ordem. O executor da tarefa que não pensa no que faz, apenas faz.

Eichmann argumentava que nunca teve nada contra os judeus, que para ele a questão judaica era indiferente. Agia porque deveria ser feito. A impessoalidade que considera necessário a tarefa a ser executada. Perfil e ação importante para quem deseja “ascender na carreira” em ambientes de trabalho.

Empresas costumam gostar de pessoas que são executores de tarefas, que não pensam na complexidade da ordem, apenas na forma mais eficiente de executá-la. Seres desta estirpe são comuns, limitados, mas eficientes e obedientes. Não são mentores ou criadores de nada. Raramente são personagens de destaque na elaboração de lógicas complexas. Não estão na autoria de mudanças, afinal, obedecem.

Nas mãos destes burocratas se coloca o serviço sujo. Por serem cegos ao executarem, por não discutirem, por serem insensíveis a questão que devem lidar, ascendem em época de imposições.

Não há valor ético nesta conduta, há sim isenção de princípios. O não posicionamento, a medíocre aparência de neutralidade, a condição de mero instrumento, ser apenas o executor, deixa claro sua pactuação com o que se faz. Um ser autômato dentro de uma estrutura que extermina. Ele age como extensão dos que mandam, clama por inocência, mas é o maior responsável por fazer a injustiça, por “banalizar o mal”.

 

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