Até onde vai a inocência e a culpa. Quantos pais e mães diante do ato condenável do filho ou da filha disseram que a culpa é das más companhias. Nós mesmos, diante de tantos atos que são fruto de nossas escolhas, colocamos nos outros a influência sobre a opção que fizemos. Não somos inocentes, no mínimo somos culpados de nossas escolhas.
Por outro lado, em nossa revisão do passado, nos damos o direito de pôr a culpa presente de quem vivia no passado e lá contribuiu para nossos avanços. Esquecemos que os seres humanos são “filhos de seu tempo”. Monteiro Lobato tem sido um bom exemplo, de seus personagens, Tia Anastácia e o Jeca, a suas afirmações em relação aos elementos da diversidade que formaram o Brasil, o chamam de preconceituoso.
Tia Anastácia, a “preta velha” muitas vezes usada como forma de designar uma das mais encantadoras figuras das histórias que encantaram gerações no “Sítio do Pica-Pau Amarelo”. O sítio que traduzia os olhares de um Brasil em suas raízes. Lobato lutou o bom combate e fez de sua obra um instrumento de luta por um país que considerava que necessitava mudar. Sua forma, em seu tempo, de apontar quem éramos e para onde deveríamos ir.
O presente não tem a competência de colocar Lobato em um tribunal e lhe dar uma sentença que destrua sua obra. Afirmar que muitas de suas análises, afirmações e definições não cabem na atualidade, é fato. Fazer de suas afirmações atos de agressão é exagero. Dizer que lobato influencia ao preconceito e legitima a discriminação é afirmar que nossos avós são os responsáveis pelo conservadorismo excessivo da atualidade.
Não posso seguir as teses de meus pais para orientar a educação de meus filhos. E se o faço, não tenho o direito de culpá-los pelos erros que meus rebentos cometem. Ao decidir, decido por mim e se minhas escolhas influenciam os outros, devo dar aos outros o direito de escolher.
Somos donos do “nosso nariz”, mesmo que alguns desejem transferir a obrigação de respirar para outros.