Encontro pessoas que afirmam que o problema do país está em sua origem. A nossa formação nos condena, segundo alguns deles. Os mais apaixonados pela ideia de nossa “falha formadora” se apegam aos elementos de formação original, os afros, portugueses e indígenas. Para alguns, uma mistura ruim que não podia da em boa coisa.
Já tive que ouvir que os nossos maus hábitos são fruto desta herança genética que demonstra a degeneração dos valores sociais. Nossa falta de comprometimento com causas mais elevadas. Nossa mesquinhez de ficarmos apegos as coisas que nos dizem respeito e não elevarmos nossos sentimentos e atenções para a nação. Os patriotas sempre exaltam o modelo dos países anglo-saxões, Estados Unidos em especial, para o contraponto de nossa pobreza patriótica.
Logo, ao nos aproximarmos do Dia da Independência, o 7 de setembro, há os que digam que a democracia não combina com o país. Não temos caráter de aliança partidária, respeito ideológico e sim, segundo os “bem-intencionados”, somos “pobres de espírito”.
Oliveira Viana, pensador brasileiro da primeira metade do século passado, considerava que deveríamos selecionar melhor as pessoas que migravam para o país. Acreditava que determinadas nações, o que na época chamava de “raças”, não faziam bem a composição social. Viana dizia, por exemplo, que os japoneses eram como enxofre, insolúveis.
O pensador, carioca, criticava a ideia de um país multirracial e preferia a eugenia da raça. Não por acaso, foi contra a imigração de judeus fugindo do holocausto. Defendeu arduamente a implantação de um governo autoritário. Resumir a ditadura de Getúlio Vargas, da qual foi defensor, que o partido é o presidente.
As ideias de Oliveira Viana ficaram no tempo e hoje destoam da identidade brasileira predominante. Já, em sua época, muitos críticos do seu pensamento ganharam mais destaque e passaram a demonstrar que as diferenças raciais e a miscigenação não são um mal. Aprendemos, ou deveríamos ter aprendido, que há possibilidades objetivas de desenvolvimento e melhora econômica, independente de nossas origens sociais.
A democracia se mostrou possível e estável. Demonstra ser a forma única de darmos possibilidade de construção de um projeto nacional representativo de inclusão. Aquele que envolva todos sem discriminação e dê oportunidades de expressão a quem faz parte das minorias. Lembrando que não são somente os que são poucos, mas os que tem pouca expressão e precisam ser representados. O que em uma ditadura não teríamos.
As ideias de Viana ficaram no passado? Hoje, há muitos que a retomam como novidade. Logo, Viana é ressuscitado não por ser relevante, mas por dar aos que ignoram uma análise rasa da sociedade, uma explicação fácil em tempos difíceis.