Não é muito fácil lidar com o outro. Imagina o quanto eles têm que lidar com a gente. Nós também não somos fáceis. A vida em sociedade é marcada por atritos. O que não é anormal, mas ao mesmo tempo nos causa uma insatisfação constante de ter que abrir mão de nossos interesses por causa dos outros. Saber que não podemos realizar tudo o que queremos por ter considerar o interesse de mais alguém.
Este conflito constante entre pessoas, grupos, instituições leva a fatos considerados de instabilidade na vida social. Não somos aquela engrenagem perfeita que muitos gostariam onde cada um faz a sua parte e vivemos de forma pacífica e controlada. Não, aqui a relação é difícil. Necessitamos do outro. As atividades alheias fazem parte da condição de nossa existência, isto é fato. Contudo, nem por causa desta certeza há uma convicção de que a vida social é algo fácil de se aceitar para nossas intenções particulares.
Neste período que estamos atravessando fica cada vez mais claro os embates entre os interesses particulares. Não por acaso delegamos ao Estado o papel de árbitro social e intermediador das particularidades. Aquele busca garantir a convivência e amenizar a intensidade dos conflitos para que não coloquem em risco a vida em coletividade, solidariedade fundamental para a existência humana.
Por isso, o papel do gestor público não é pensar em alguns, mas na condição de todos, nas necessidades coletivas diante dos interesses de cada um. A inconciliável relação que se traduz na máxima de que “não é possível agradar a gregos e troianos”. O descontentamento e a frustração tem seu preço. A vida em sociedade exige do ser humano abrir mão de parte da vontade para ter outras atendidas. Na relação ideal desta troca, ceder no que é menos essencial para obter o que é fundamental.
Cabe ao poder público estar atento a isso. Não garantir o acesso aos excessos para alguns e tirar o fundamental de outros. Prejudicar a existência de pessoas importantes para a sociedade e consequência garantir o atendimento às necessidades superficiais de quem já goza de condições para atender a si mesmo.
Os “abusados” e os “abusos” crescem no país por causa das concessões que são feitas em grande parte pelo poder público. Os beneficiados do poder vivem às custas de permissividade e por isso, não tem limites. Enquanto isso, uma parte considerável da sociedade vive limitada na busca das mínimas condições. Os excessos são fruto da falta de educação e o Estado também é responsável pelo comportamento excessivo. Não o único, é claro.
Esta irritante e maravilhosa condição de não estarmos sozinhos é que nos faz. Construímos a nossa possibilidade de sobrevivência enquanto espécie dividindo funções e aprimorando nossa condição social. Isto que nos fez chegar onde chegamos. O progresso humano é obra coletiva e não de conquistas pessoais.