Professores resistem e alunos abandonam
Entrava na sala de aula, e sempre tive orgulho do que faço. Ser professor é a coisa mais importante da minha vida. Serei sempre. Mas, já sofri muitos golpes. Alguns eram diários e buscavam baixar minha estima. Bom professor, em regra, vive sendo golpeado na dignidade e na autoestima.
Mas, um dos golpes mais dolorosos é quando meus alunos afirmam que não veem qualquer finalidade no que estudam. Consideram uma perda de tempo frequentar a escola. E, confessaram, sem nenhuma vergonha, que preferiam estar em outro lugar qualquer ao estarem ali.
Nunca fui professor de abandonar a luta, porque se a evasão escolar é elevada, imagina a evasão dos professores. Quantos abandonam a profissão. Apesar de ser assunto para uma outra conversa, 79,4% já pensaram em abandonar a profissão.
Para que serve isso, professor?
Mas, voltemos aos alunos, que prolongam a conversa da “inutilidade” da escola. Eles perguntam com toda a convicção da resposta, “Qual a finalidade deste conteúdo que o senhor explica, professor?”
Sempre me senti desafiado. Por isso, para mim, dar aula era falar da realidade e analisá-la usando a ponte da ciência para fazer o trajeto para a consciência. Ir além do rio da ignorância é atravessar a ponte do conhecimento. Mesmo assim, muitos não vinham, não atravessavam, permaneciam.
O grande problema é que a evasão escolar tem aumentado, principalmente no ensino médio. Hoje, 5,9% dos jovens abandonam esta fase escolar. A maioria são homens, 7,3%. As mulheres que abandonam o ensino médio são 4,5%.
Os principais fatores do abandono são o ingresso no mercado de trabalho, antecipado, para ajudar a família, 41,7% dos casos, e desinteresse pelo estudo, 23,5%. Que incrível, nos dois casos a realidade rouba os alunos da escola, e a realidade deveria ser a matéria-prima da escola.
A curiosidade neste sentido é que ao abandonar a escola por ter encontrado uma “oportunidade” de trabalho, os alunos enterram outras oportunidades que viriam pela qualificação. Se tivessem permanecido, as oportunidades que surgiram seriam melhores. Mas, nem todos têm tempo para esperar.
Pagando para estudar
O governo federal lançou recentemente o programa “Pé-de-Meia”. Uma forma de incentivar a permanência dos alunos e evitar que eles necessitem sair da escola para ajudarem financeiramente em casa. O Estado está pagando para os alunos se educarem.
Pode parecer engraçado, o que é um privilégio, se educar, necessita receber incentivo, remunerar. Uma conquista que para ser atingida se paga quem a tem. Mas, entendo, é necessária.
O engraçado é ver os filhos de melhor renda exigem remuneração dos pais para continuar frequentando a escola. Tem todo o conforto e infraestrutura para estudar, mas cobram compensação para continuar estudando.
Se na primeira lógica o Estado precisa remunerar os jovens para não abandonarem o ensino médio. E o principal fator é porque eles desejam ingressar no mercado de trabalho e não tem condições financeiras de se sustentar estudando, na segundo há o excesso de conforto e o desinteresse pela escola é o ócio existencial.