A sabedoria de uma parteira
A mãe de Sócrates era parteira. Inspirado por ela, o filósofo grego construiu uma das mais belas metáforas do pensamento humano: a maiêutica, o “parto das ideias”. Para Sócrates, a verdade não era algo que se impunha de fora, mas algo que nascia de dentro — como uma vida nova, trazida à luz pelo questionamento. O papel do pensador, então, seria o de uma parteira do espírito: ajudar o outro a dar à luz o que há de verdadeiro em si, conduzindo-o por meio da dúvida, da contradição e da reflexão.
A verdade nas relações humanas
Mas o que essa lição filosófica tem a ver com o nosso cotidiano?
Em nossas relações — pessoais, profissionais ou institucionais — convivemos com uma diversidade de ideias, posturas e valores. Dentro das empresas, nas organizações e até nas famílias, essas diferenças muitas vezes se transformam em conflito. E diante dos conflitos, surge uma pergunta essencial: onde está a verdade dessas relações?
Talvez ela não esteja em um lado ou em outro, mas no exercício de buscá-la juntos. A verdade, nesse sentido, não é posse, mas processo. É algo que se revela quando aprendemos a perguntar e a ouvir — a nós mesmos e aos outros.
O papel de quem busca a verdade
Aprender a perguntar é um gesto ético. É um ato de respeito pela liberdade e pela inteligência do outro. Quando questionamos de forma genuína, não tentamos impor uma “vida” ao outro, mas o ajudamos a descobrir a vida que já existe dentro dele. Ser parteiro de ideias é isso: criar o espaço para que o outro encontre a própria verdade.
Essa prática é especialmente importante nas organizações, onde decisões são tomadas, valores são construídos e convivências são testadas todos os dias. O gestor, o colega de equipe, o professor, o líder — todos podem ser parteiros do pensamento, desde que aprendam a estimular o questionamento e a escuta.
A inteligência está na pergunta
Os seres humanos desejam viver de acordo com sua essência, mas frequentemente se acomodam a verdades prontas. Aceitam como absolutas as ideias que lhes são apresentadas, esquecendo que a verdade é uma construção, e não uma doação. Ela nasce do diálogo entre o que somos e o mundo que nos cerca — e, sobretudo, da coragem de nos questionarmos.
Se buscamos a verdade sobre nós mesmos, precisamos aprender a fazer a pergunta certa. Pois, como lembrava Sócrates, a inteligência está na dúvida, não na resposta. A resposta é apenas a consequência natural de uma pergunta bem feita — aquela que toca o fundo da alma e faz nascer o que há de mais verdadeiro em nós.