O presidente da república está em uma guerra com o Sistema Globo de Comunicação. Um conflito direto e aberto. Com inúmeros casos e fatos. Também interpretações recriações. Uma disputa que parece não terá fim, pelo menos nos próximos anos. A maior rede de comunicação do país tem recebido duras críticas do presidente da república e de outras emissoras que se aproveitam para pegar carona no ambiente de conflito.
A luta entre o poder e os meios de comunicação é histórica. Caminha a passos de origem do comando e da capacidade de propagar informação. O profissionalismo e eficiência dos meios de informação geram um atrito direto com o poder instituído. Este embate está na história da humanidade.
No Brasil, a luta também é antiga. Não por acaso os meios de comunicação de massa clássicos como rádio e TV dependem da concessão do Estado. Uma forma de regular o uso dos meios e garantir sua ligação direta ou indireta com o poder. Não por acaso o cineasta Cacá Diegues chamava esta relação de “capitanias hereditárias”.
Assim como a sucessão no poder político envolve famílias, as emissoras de rádio e tv também. Inclusive como na própria formação do Brasil o poder de igrejas nos meios de comunicação é vital. Muitas emissoras de tv e rádio estão ligadas a grupos religiosos. Faz parte de nossa história.
Repetimos sempre o mesmo ritual constante. Aquela briga que parece nova é tão antiga que não percebemos sua naturalização. O que se coloca como um desafio atual na prática se sustenta nas condições em que se mantém o poder e os meios de comunicação como negócio.
Em uma democracia liberal não se pode ter controle sobre a comunicação e toda e qualquer acusação sem provas deve ser levada à Justiça. Os desmandos sobre os meios de comunicação estão sustentados na falta de democratização, liberdade de ação e responsabilidade.
No Brasil nós temos que respeitar a imprensa. A produção de conteúdos sobre fatos têm suas versões. Este é outro problema, desejar que a neutralidade, imparcialidade e objetividade existam dentro da produção de um conteúdo. Pode-se buscar, mas não se vai atingir plenamente nunca estas condições. Todo o conteúdo relatado passa por uma versão e compreensão de quem o produz.
A democracia e a comunicação ganham com isso, as diferentes formas de ver o mesmo fenômeno. A maneira como abordamos os conteúdos. A condição em que a notícia chega as pessoas e em que momento ela chega. Tudo conta para a construção de uma compreensão diferente sobre o mesmo fato. E não há como nos livrarmos disso.
Muitos gostariam que os meios de comunicação falassem aquilo que desejam. Ainda mais quando se é o tema ou personagem de um fato relatado. Mas as coisas não acontecem assim. O mundo em coletividade tem visão e vivências diferentes. A imprensa não foge a regra, é feita por pessoas e suas subjetividades.