Quanto vale uma vida?
O preço de uma vida pode ir muito além do que se deseja pagar. O que expressa o respeito a um ser humano são muitas varáveis. Depende de como nos relacionamos com o que está em pauta quando uma pessoa está em nossa frente. Onde está nossa cadeia de sentidos ao ver um outro ser que precisa de nossa atenção. Estou falando do caso de Alhana Semprebom, uma criança de dez meses que morreu de complicações após atendimento em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na Zona Norte, em 2013. A Justiça considerou que houve negligência médica. Dois médicos foram condenados, podem recorrer. Isto aconteceu em Maringá, no Paraná. Não quero entrar em detalhes se os médicos em questão são culpados ou não. Ainda pode ocorrer uma jornada na Justiça até que uma sentença final seja dada. Mas este caso me lembra a forma como a saúde pública é um tema espinhoso. O quanto ela coloca em xeque a formação de profissionais que podem ter como critério para sua ação apenas um interesse imediato. Formamos nas academias profissionais pouco humanos. Máquinas de generalização. Vivemos o mundo da técnica onde devemos aplicar sempre um mesmo procedimento diante de um fato aparentemente classificado em nosso conceito. O que quero dizer? Não se observa mais o contexto de cada um, se enquadra as pessoas em modelos pré-estabelecidos. Dentro do ambiente acadêmico todos estão sedentos para terem métodos prontos. Conceitos fechados, resumos, definições, sínteses, enfim, explicações concisas para se obter técnicas que necessitariam de um conhecimento mais complexos. Se quer manuais em vez de pesquisas e análises mais profundas. Isto não ocorre só em cursos de medicina, mas na formação acadêmica de forma geral. Não por acaso, o ser mais medíocre intelectual e emocionalmente pode fazer um curso de medicina, engenharia, direito, pedagogia, psicologia, etc. Pode entrar em um consultório ou sala de aula, projetar um edifício, uma ponte, colocar a vida de um grande número de pessoas em risco. É isso que não estamos levando em conta na formação de nossos profissionais. O caso de Alhana pode não se enquadrar nesta análise, mas lembra. Ela pode ter sido vítima de negligência, mas não é a última e nem a primeira. E vamos ser sinceros, a quantidade de casos se multiplicam. Sempre é bom lembrar que a responsabilidade vai além dos que cometeram erros profissionais, vai de uma sociedade permissiva com a ignorância.

Opinião

Quanto vale uma vida?

Por Gilson Aguiar em 16/07/2019 - 08:00

O preço de uma vida pode ir muito além do que se deseja pagar. O que expressa o respeito a um ser humano são muitas varáveis. Depende de como nos relacionamos com o que está em pauta quando uma pessoa está em nossa frente. Onde está nossa cadeia de sentidos ao ver um outro ser que precisa de nossa atenção.

Estou falando do caso de Alhana Semprebom, uma criança de dez meses que morreu de complicações após atendimento em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na Zona Norte, em 2013. A Justiça considerou que houve negligência médica. Dois médicos foram condenados, podem recorrer. Isto aconteceu em Maringá, no Paraná.

Não quero entrar em detalhes se os médicos em questão são culpados ou não. Ainda pode ocorrer uma jornada na Justiça até que uma sentença final seja dada. Mas este caso me lembra a forma como a saúde pública é um tema espinhoso. O quanto ela coloca em xeque a formação de profissionais que podem ter como critério para sua ação apenas um interesse imediato.

Formamos nas academias profissionais pouco humanos. Máquinas de generalização. Vivemos o mundo da técnica onde devemos aplicar sempre um mesmo procedimento diante de um fato aparentemente classificado em nosso conceito. O que quero dizer? Não se observa mais o contexto de cada um, se enquadra as pessoas em modelos pré-estabelecidos.

Dentro do ambiente acadêmico todos estão sedentos para terem métodos prontos. Conceitos fechados, resumos, definições, sínteses, enfim, explicações concisas para se obter técnicas que necessitariam de um conhecimento mais complexos. Se quer manuais em vez de pesquisas e análises mais profundas. Isto não ocorre só em cursos de medicina, mas na formação acadêmica de forma geral.

Não por acaso, o ser mais medíocre intelectual e emocionalmente pode fazer um curso de medicina, engenharia, direito, pedagogia, psicologia, etc. Pode entrar em um consultório ou sala de aula, projetar um edifício, uma ponte, colocar a vida de um grande número de pessoas em risco. É isso que não estamos levando em conta na formação de nossos profissionais.

O caso de Alhana pode não se enquadrar nesta análise, mas lembra. Ela pode ter sido vítima de negligência, mas não é a última e nem a primeira. E vamos ser sinceros, a quantidade de casos se multiplicam. Sempre é bom lembrar que a responsabilidade vai além dos que cometeram erros profissionais, vai de uma sociedade permissiva com a ignorância.

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