Sem sinceridade e confiança não há empresa que sobreviva
Imagem ilustrativa/Pixabay/domínio público

Opinião

Sem sinceridade e confiança não há empresa que sobreviva

Por Gilson Aguiar em 31/08/2020 - 09:18

Muitas vezes é importante entender que as coisas não são tão óbvias assim. Nem sempre é a crise financeira que leva uma empresa à falência, mas sim a falta de confiança por causa das relações insinceras. 

É só você caminhar pela cidade e percebe que as placas de “aluga-se” aumentaram. A loja de sapatos, a livraria, a sorveteria mais adiante, a surpresa da loja de roupa que também fechou são cenários infelizes e resultado da crise provocada pela Covid-19. Se você parar para pensar, tem alguém que apostou no sucesso de um empreendimento e o viu naufragar durante a pandemia. Lembrando que as coisas já não iam bem antes dela. 

Um levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio/PR) demonstra que os setores de produtos não essenciais teve uma queda média de 30%. As maiores foram em óticas e cinfe-fotos (48,54%) e vestuário e tecidos (41,22%). Apenas dois setores mantiveram crescimento, os já conhecidos supermercados e farmácias. 

A queda nas vendas também significou para 22% o fim da atividade. O que se torna perceptível ao observar que, em média, no país, cresceu 20% a oferta de espaços comerciais para locação. O sonho de muita gente virou pesadelo. E aqui não estou falando só do empresário que teve que dar “adeus” a sua empresa. Empregados perderam seus postos de trabalho. Em alguns setores o índice chega a 30%. Sem deixar de lembrar que as micro e pequenas empresas no país representam mais de 52% do emprego com carteira assinada. 

Mas, não vamos falar só de crise. Em muitos casos as empresas se reinventaram e souberam sobreviver e viver com a crise como aprendizado. Os que souberam fazer isso, descobriram novas formas de continuarem atendendo a demanda adaptando-se a nova condição, o isolamento e distanciamento social. Aprenderam a olhar o que parece o fim como um recomeço. 

E vale lembrar que recomeçar é mais ousado do que colocar fim e começar outro empreendimento. Ter e manter quando tudo indica que devemos desistir é o desafio da grande maioria dos empresários que foram colocados a prova e superaram a condição de vítima para agentes de mudança e inovação. Todos poderiam ter feito isso? Sim, se estivessem preparados.

Claro que ninguém abre um empreendimento pensando na mudança de contexto, na transformação das circunstâncias de favorável para desfavorável. Ninguém casa com alguém pensando na separação. Contudo, pode iniciar algo para durar com os pés mais no chão e o conhecimento do ambiente com mais consciência e menos tomado pela empolgação. Casar-se é uma felicidade, mas ela não é permanente porque não se casa com a perfeição e sim com um ser humano. Vale lembrar que nós somos humanos e erramos, somos imperfeitos, e não podemos esperar aquilo que não podemos dar, perfeição.

No Brasil a economia e a sociedade tem ciclos e condições produtivas instáveis que são permanentes, antecedem a crise e precisam ser entendidas pelos que desejam empreender. Saber onde se está é o passo fundamental para entender onde se quer chegar. Se tivéssemos esta preocupação com os nossos relacionamentos e empreendimentos, com certeza eles durariam mais. Hoje, de cada cinco empresas abertas, três delas vão fechar em menos de cinco anos. Os casamentos têm índices de separação crescentes. 

A crise financeira acaba com um casamento e também com uma empresa, dado estatístico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Porém, sempre é bom lembrar que a crise financeira é contexto e não motivo. 

A falência de um relacionamento e empreendimento se sustenta na perda da sinceridade e da confiança por consequência. E o que e quem não confiamos não merece nosso empenho. Muitos líderes se transformam em pessoas inconfiáveis. Transmitem isso para todos que estão a sua volta. Ninguém quer conviver com quem não confia.

Logo, a crise que nos cerca fragiliza ainda mais as relações sem confiança e insinceras. Não temos mais a capacidade de apostar na pessoa que nos relacionamos por causa da perda da confiança. Não acreditamos mais na relação e no que estamos fazendo. Diante da crise, estas condições ficam mais evidentes. 

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