Porque se faz o que é o certo?
A conduta de uma pessoa justa é resultado do que se acredita ou da vigilância estabelecida sobre ela?
Hoje observamos a quantidade de câmeras de vigilância espalhadas por todos os cantos. Elas estão sempre na espreita e alimentam significativamente os noticiários. Parte considerável do tempo dos telejornais são marcados pelas imagens capturadas de pessoas cometendo erros, imprudências e as vítimas dos malfeitores.
Sobre este olhar atento das câmeras de vigilância, as empresas públicas e privadas e as pessoas discutem espalhar por todos os cantos os mecanismos de controle para poder conter a violência, abusos. A vigilância do outro se tornou fundamental para a garantia da ordem.
Mesmo os policiais militares estão agora no foco da discussão sobre a conduta vigiada. O bom policial deve ser aquele que anda com um câmera de vigilância presa a farda e que o acompanha e filma durante todo o dia de trabalho. Como se o lema fosse, “o bom policial não teme ser vigiado, faz o bem o tempo todo”.
O exemplo de Giges.
Esta busca por vigiar para garantir que o bem prevaleça é uma discussão antiga. Um dos textos de Platão, na sua obra A República, fala sobre um pastor, Giges. Uma pessoa comum, e aparentemente bom, que após um terremoto encontra um corpo de um homem morto com um anel.
Giges pega o anel do defunto e coloca em um de seus dedos. Ao conversar com outros pastores descobre que ao virar a pedra do anel para a palma da sua mão ele fica invisível. Quando coloca o anel na direção externa da sua mão, fica visível novamente.
O então pastor aparentemente inocente comete inúmeras maldades. Ele dá um golpe no rei para quem servia, conspira, rouba, violenta e trai. Tudo porque ele não pode ser visto. O anonimato o absolve. As vistas dele é um ser humano inocente, bom, digno, correto. Fora das vistas de todos um ser repugnante, que faz tudo o que sua vontade egoísta e inescrupulosa permite a uma pessoa invisível.
Seríamos todos nós pessoas boas porque somos vigiados? Seria o bem uma escolha que fazemos e adotamos independente dos outros nos vigiarem ou não? Esta reflexão vale a pena, principalmente antes de condenarmos os outros como seres ruins por natureza. Vale pensar, temos uma natureza ruim ou nos fazemos ruins pelas nossas escolhas?
Vale a pena a reflexão!