Colaboramos para o controle de todos os dias
Saber onde se está, o que se está fazendo, hoje também é possível o controle sobre a orientação do pensamento. Há um estabelecimento de pautas diárias que somos confrontados e enfrentar e debater. O que interessa não é mais de nossa conta apontar, mas ser apontado pelo que nos é divulgado constantemente.
Logo, somos manipulados por pautas contínuas ou descontínuas que não dominamos sua intensidade e orientação. Ficamos olhando para as coisas que nos colocam à frente e não percebemos a real intenção do que nos é mostrado. Vivemos a liberdade de fato ou a sensação de termos a nossa vida em nossas mãos?
Estra condição me faz lembrar de Michel Foucault, pensador francês do século passado. Uma das mentes mais brilhantes quando o assunto eram relações de poder e controle. Uma de suas obras, “Vigiar e Punir”, ele faz uma análise das relações de poder e controle que se estabeleceram na sociedade desde o Século XVII.
Para Foucault, somos e necessitamos do controle como meio de organização. Porém, o preço é o poder que se estabelece na medida em que este “controle” cresce. Quanto mais se é previsível se pode estabelecer uma relação direta entre manipulação e poder.
Vivemos e amamos o mundo das “sombras”
Antes mesmo de Foucault, na lógica de Platão, vivemos em mundo em que a aparência não é a essência. Há uma lógica que não se denuncia no dia a dia. Para ele, precisamos buscar a verdade das coisas além deste mundo que estamos envolvidos sensivelmente todos os dias.
Hoje, nos denunciamos nas redes sociais o que somos, o que estamos fazendo, no que estamos pensando, nossos interesses e relações. Em parte, nessas publicações há uma dose de mentira e exagero. Não tão real como parece e nem tão falso para que não possa ser dado crédito ou pelo menos se fazer acreditar.
Mas, nos denunciamos. Estamos a busca de que outras pessoas nos valorizem e sejamos um objeto de degustação alheia. Somos o esperado, fazemos o que os outros esperam. Estamos sempre cumprindo a lógica da orientação que nos é dada da maneira ideal e do local correto de existir. Estamos sob controle.
Preconceito e predisposição controlados
Desta condição ocorrem pré-julgamentos. Classificamos os seres humanos em expectativas e rótulos que nos são colocados e incorporamos como se fossem nossos. A simplificação da lógica do controle emburrece. A mente fica com uma associação lógica pobre e limitada. Temos um manual simplificado de podermos identificar o bem e o mal divulgado todos os dias. As chamadas “receitas de viver”. Elas são um perigo.
Precisamos fazer algo para que não sejamos manipulados por esta lógica. O pensamento crítico pode ser uma boa receita. Porém, já vou avisando, ele requer comprometimento com a busca da verdade e do entendimento da complexidade das coisas. Não haverá receita e sim esforço para construir lapidando e remexendo o que há por de trás do que nos é apresentado.
O pensamento crítico é um exercício digno de buscar a autenticidade do que nos é dado como aparente verdade ou certeza. Ele nos faz reconstruir o que somos pelo exercício ardo da busca. Seremos obrigados a ir além e verdadeiramente sair do controle, da manipulação.