Mudar exige potência.
Existe um discurso corrente nas mídias digitais e na vida de uma maneira geral de que o ser humano tudo pode. De que não há limite ao que se pode fazer e podemos ser o que desejarmos. Uma retórica da possibilidade ilimitada de um ser humano. A frase ilusória de que “você pode ser tudo o que quiser”.
Não, nós não podemos tudo e cada um de nós tem suas potências. Elas não são iguais para todos, mas precisam de condição adequada para se desenvolverem. Precisamos experimentar nossa capacidade e ter lucidez para saber escolher o que desejamos, o que é melhor para nós e o que sabemos fazer bem feito.
Não poderemos fazer tudo o que queremos, mas sim o que podemos, isso é descobrir o nosso potencial, a nossa potência. Ter a lucidez, a consciência de qual habilidade, qual condição fundamental temos para criarmos o ambiente necessário para o desenvolvimento máximo do que sabemos fazer de melhor.
Mudança implica em riscos que poucos querem correr.
Contudo, desenvolver o nosso potencial implica abrir mão daquilo que gostaríamos de ser pelo que podemos fazer. Nem sempre, por mais que seja possível, podemos conciliar desejo e possibilidade. Também, da mesma forma muitas vezes, não podemos alinhar tempo, vontade e potência. Por isso, quando precisamos fazer alguma coisa necessária, fazer o que temos de melhor, há limites.
Este limite é filho de nossas escolhas, e desta forma, abrimos mão do que desejamos por aquilo que é necessário. Não é incomum, termos um potencial que não expressa intensamente nosso desejo. Porém, se torna a condição que temos para nos mantermos naquele momento.
Desta forma, se precisarmos fazer escolhas, vamos correr nossos riscos. E não podemos negar, viver tem seus riscos. E não se pode mudar sem esta condição. Deixar de ser o que se é implica em negar a condição que se tem. Se tornar alguma coisa implica em deixar de ser outra, seja boa ou ruim. A existência é a condição constante da contrariedade, o desconforto de perceber que há tantos outros e não somos, nem de longe, a única opção no mundo.
Além disso, de não sermos a única opção no mundo, podemos não ser a melhor. Nosso senso de justiça pode ser equivocado, míope, pequeno, uma visão estreita da realidade que avalia uma pequena possibilidade diante de um mundo tão vasto.