Hoje se lembra da morte de Tiradentes, o dentista, alferes, comerciante e engenheiro. Há quem diga, um sonegador de impostos e contrabandista de produtos e pedras. Homenageado como o patrono cívico da nação.
Militar, nunca usou barba. Também, nunca teve cabelos compridos. As pinturas que mostram o homem altivo, de barba e cabelos longos, o “Jesus Cristo” da pátria, é fruto da imaginação do sacrifício pela pátria que se construiu sobre o “herói” nacional.
José Joaquim da Silva Xavier foi marcado com a frase célebre pouco antes de seu enforcamento no Rio de Janeiro em 1792, “Cumpri o meu papel”. Outra, na escola, declamada em lembrança do “herói pátrio” é a que diz, “Se sete vidas eu tivesse, sete vidas eu daria pela pátria”.
Não foi o líder da inconfidência. Mas ficou lembrado como o resumo de um movimento que nunca se tornou uma ação e sim uma conspiração. A Inconfidência Mineira, de 1789, nunca saiu as ruas, não foi um confronto aberto e declarado. Foi conspiração de gabinete.
Feito herói após a Proclamação da República (1889), transformado o dia da sua morte em feriado nacional em 1965, durante o regime militar, é o símbolo da luta pela liberdade.
Então o herói pátrio foi escolhido e parte considerável de seus feitos fabricado. Sua imagem criada para lembrar aquele que morreu pela pátria. Possivelmente, a pátria livre desejada por Tiradentes é bem diferente daquele que se tornou livre e esta que vivemos.
Quantos heróis são fabricados? Por um lado, estes personagens idolatrados não surgiram para serem uma realidade possível e sim um ideal a ser buscado ou a busca de expressar simbolicamente o melhor de nós sem nunca ter sido.
O personagem fabricado de Tiradentes nos faz refletir sobre o quanto que os ídolos perfeitos e desumanos são uma referência inalcançável. Eles nos condenam ao eterno mundo dos defeitos, limitações e fraquezas. Por isso, são falsos. Porém, não conseguiríamos idolatrar e amar alguém que fosse demasiadamente humano. Não construímos heróis para serem nosso espelho. Fazemos isso mais para encobrir nossas falhas.