Violência extrema é obra anunciada
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Violência extrema é obra anunciada

Por Gilson Aguiar em 26/06/2023 - 08:00

Violência é resultado e não fator

Todas as vezes que acontece um atentado em uma escola se fala em segurança armada próximo as instituições de ensino. Há quem defenda ações de defesa pessoal para professores e alunos, o que é admissível, mas não é uma solução definitiva.

O que precisamos são medidas preventivas e não remediativas. Agimos sempre no calor da hora. Não percebemos que fatos mais corriqueiros que passam despercebidos podem ser mais nocivos do que a tragédia sazonal.

Não é de hoje que sempre defendemos medidas paliativas ou imediatistas para problemas complexos. Um crime hediondo sempre nos traz a ideia de que precisamos reagir com violência. Contudo nos esquecemos que a tragédia e descuido anterior. Fruto de uma violência naturalizada.

As tragédias são construídas e não ato inesperado

Muitas das nossas tragédias são anunciadas. Alimentamos o monstro que depois não conseguimos dominar ou nos atinge inesperadamente. E já estamos assim há muito tempo e para muitas coisas.

A violência praticada por jovens que invadem escolas é alimentada pelas práticas de agressão construídas na vida cotidiana. Dentro de ambientes como residência, escolas, locais de trabalho. Brincadeiras de mau gosto, ofensas diárias, generalizações e rótulos vão construindo aos poucos um ódio represado que rompe a contensão e se transforma em ato de extrema violência.

Deveríamos ter mais civilidade e cordialidade, deveríamos ser mais éticos e responsáveis pelas nossas condutas diárias. Temos que expressar valor nas relações que estabelecemos com as pessoas. Devemos propagar respeito nos pequenos gestos.

Não se combate violência com violência

O grande problema de nossas dores, da violência que se quer combater com violência, é a ausência de um ser humano que respeite as pessoas e não se considere o centro de todas as coisas.

Hans Magnus Enzensberger, pensador e ensaísta alemão, considera que a violência com a qual convivemos hoje é fruto de nossos conflitos construídos pela singularidade tola das guerras que promovemos.

Estamos alimentando dentro de nós o ódio como se esta fosse a nossa finalidade. Nascemos para a agressão, somos treinados para revidar e somos inocentados das práticas agressivas que praticamos.

Hoje a guerra é civil

Hoje, a morte está nas mãos dos civis e são eles que são a principal vítima do extermínio. Os conflitos urbanos acumulam números de mortes muito maior que as guerras organizadas. Os soldados já não enfrentam mais soldados. São os civis que fazem o conflito cotidiano.

Por isso, os discursos de armar a população ganham força. Todos querem se preparar para a possível agressão agredindo. Fazer “justiça com as próprias mãos” ganha mérito e merecimento. Aplaudimos o justiceiro e o transformamos em herói.

Chamamos de líderes os propagadores da guerra e não consideramos que o perfil deste comandante só nos levara a um destino, a morte.

José de Souza Martins, em um texto denominado “Medo Social”, afirma que estamos vivendo a violência que se justifica para conter a própria violência. Ou seja, atiramos primeiro e depois perguntamos. Supomos que seremos agredidos, agredimos. Já temos o “perfil” do agressor cultuado em nossa mente e qualquer um que se assemelhe deve ser “executado”.

Com esta forma de pensamento, ficamos depois nos perguntando quem são os agressores e de onde vem tanto ódio.

O caminho é inverso

Se queremos conter a violência devemos propor ações de paz. Devemos agir na defesa da norma e não criar as próprias regras com base em visões distorcidas da realidade. É hora de aprendermos a conhecer, ter ciência e consciência antes de agir.

Temos que admitir que temos uma visão distorcida da realidade e os elementos que nos servem de análise são precários. Os impactos das notícias e os poucos dados, nem todos corretos, para análise comprometem nosso posicionamento e opinião sobre o tema.

Logo, o caminho é inverso. Temos que responder a violência uma eficiência e prevenção na construção de uma sociedade onde a Justiça seja fundada na dignidade e preservação da vida. Já temos mortes demais e as vidas perdidas são resultado de nossa omissão.

Então, não vamos mais ser omissos. Não é preciso fazer grandes feitos e ações, o herói é aquele que constrói e reconstrói a solução, mesmo rodeado de escombros. Ele não pega a arma para fazer vingança, como afirma Enzensberger, “ele limpas os tijolos para reconstruir o que a guerra destruiu”.

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