Quando viramos o “puxadinho” da vida alheia
Como é fácil dizer sim para os outros e não para você mesmo. Chega a ser irônico a nossa capacidade de viver a necessidade dos outros com mais intensidade do que as nossas. Abdicamos inúmeras vezes de nossas necessidades para fazer da necessidade do outro uma prioridade.
Pior, conforme o tempo passa e esta prática se torna constante e contínua, ela se naturaliza. E, o outro já não separa mais o que considera ser dele e o que é daquele que faz por ele. Enfim, se acaba apoderando-se do que era concessão do outro e se transforma em propriedade. É nestas horas que o favor se torna obrigação.
O preço que se paga é caro, ao longo de uma vida, ser prisioneiro da vontade dos outros. Se esta condição é extensa e intensa, pode-se chegar ao ponto de não se saber mais quem se é. A pessoa se vê como uma extensão e não mais como um ser em si mesmo.
E o sintoma é simples, a pergunta constante feita para alguém é reveladora, “O que você acha do que eu fiz?” ou a humilhação absoluta, “Você viu o que eu fiz por (ou para) você?”, acompanhada de um “Você gostou?”.
Os outros nos invadem porque abrimos a porta.
Nada contra termos os outros como uma referência, mas eles não são senhores da concessão do que devemos ou não fazer. Esta escolha deve ser feita pelo nosso próprio juízo diante de nossas necessidades. Claro, levando em consideração o que os outros podem ou não sofrer como consequência dos nossos atos, mas a escolha é nossa e por nós.
É como se mudássemos o ponto de referência de onde parte o centro da decisão, o que muitos chamam de “senso de agência”. O local onde se administra a ação é em você e não no outro. Os fatores determinantes da ação que se toma está em seu ganho e não no ganho do outro. “Ninguém tem que se madeira e se queimar para aquecer o outro”.
E uma verdade que com certeza você já ouviu é de que a melhor hora de pôr limites é quando a relação começa. Depois, e quanto mais o tempo passa, as coisas tendem a ficar piores. Pode chegar a anulação completa. E te peço, não deixe isso acontecer, é um preço muito caro, é sua vida que está virando a moeda de troca.
Porém, tem horas que a invasão tomou conta, você está completamente invadido. Busca por um sinal de sua existência na casa tomada pelo outro que deveria ser a sua moradia. O que fazer?
Sinto lhe dizer, a saída é reagir na dimensão da agressão, ter a força na proporção do que te controla e cala. E se preparar para a reação alheia quando isso acontecer, quando você começar a expulsar o “inimigo íntimo”, não recuar.
E, toda a reação começa por você mesmo. É seu interior que está sendo invadido, é uma luta inicial de você contra você mesmo. E, acredita, esta será a mais difícil. Porém, a faça. Não seja seduzido por suas fraquezas, não se deixe levar pelo hábito de atender as necessidades alheias, é você quem está em jogo. Lembre-se, se perder, não há mais nada para se poder viver.