Isso não pode ser um hábito.
O grande problema da violência constante é sua permanência. Quando transformamos a agressão em hábito e ela consegue fazer da vida um ato constante de conflito. Chegamos ao ponto de que se vive a espera da agressão e se prepara, o tempo todo, para ser agredido. Não por acaso, em ambientes como este, a agressão é uma linguagem corrente.
É como o cumprimento, a cordialidade que se perpetua. Se o hábito da boa educação é uma constante que se reproduz porque sabe que será retribuído, a agressão ganha o mesmo sentido. A civilidade humana se sobrepõe à irracionalidade pela prática constante.
O que estamos assistindo hoje é uma guerra constante e ambientada. Aquelas permanências a que as pessoas foram condenadas e como uma martírio eterno incorporaram a vida como parte de sua identidade como ser humano.
Imagino o que é para as pessoas viverem em um campo de batalha permanente. Desde as duas guerras mundiais os civis são as principais vítimas dos conflitos. Eles são o alvo dos combatentes. Assistir a morte de inocentes é uma constante.
Vivemos as guerras moleculares.
Os conflitos civis ganharam proporções alarmantes no mundo nas últimas três décadas. Assistimos pelos meios de comunicação o “espetáculo de horrores” diários do número de seres humanos que são eliminados em conflitos permanentes.
Quero lembrar que estes conflitos permanentes não são somente as guerras que se transformam em notícias e ganham notoriedade internacional. Há aquelas diárias que estão ocorrendo em diversas partes do mundo e passam despercebidas aos olhos da humanidade.
Muitas destas guerras são urbanas, se dão nas periferias, estão ligadas ao crime organizado, ao conflito de facções, ao comando da violência em periferias urbanas. São guerras que mapeiam o território urbano de maneira a legitimar o comando de facções que têm o controle sobre vidas diárias e lhes fazem de refém sem que desejam.
Não temos ideia do número de pessoas que foram cerceadas de sua liberdade. Elas não são respeitadas e nem têm leis que as protejam. Elas estão sujeitas a violência constante, sem qualquer proteção. Ironicamente, inclusive, os que prometem protegê-las são os mesmos que as oprimem e muitas vezes executam.